Como acelerar os negócios nas companhias familiares

John Davis, professor da Harvard Business School, conta que não dá mais para a as empresas serem lentas como antigamente.

Por muito tempo, o professor da Harvard Business School John Davis, um dos maiores especialistas em empresas familiares do mundo, concordou com a afirmação de que esse tipo de negócio se move mais lentamente, mas eventualmente se prova melhor que os outros. Se demoram mais a crescer, apresentam também mais solidez em aspectos como fluxo de caixa e volume de dívidas. Agora, no entanto, Davis teme que essa estratégia seja perigosa. "Hoje não se pode mais ser muito lento, ou você perde oportunidades", diz.

Adequar-se à crescente velocidade do mundo dos negócios, embora uma exigência para qualquer companhia hoje, é um desafio ainda maior para empresas familiares, tradicionalmente mais conservadoras e estáveis. À necessidade de acompanhar as transformações digitais soma-se ainda o desafio da sucessão, hoje complicado pela carreira mais longa das primeiras gerações e a impaciência dos mais novos. "As empresas familiares podem acelerar seu ritmo, sem perder seus valores, e ficar à frente de tendências?", questiona.

"Os negócios estão atingindo a maturidade mais rapidamente", explica Davis. No passado, as empresas familiares expandiam para outras regiões ou países na segunda, ou até terceira, geração. Hoje, é muito mais comum que uma companhia atue em diversos países e fature bilhões já na primeira geração, diz o consultor. O desafio aparece quando os gestores familiares passam a precisar adotar papéis mais estratégicos e menos operacionais. "As famílias que administram negócios tendem a ser boas operadoras, elas têm um bom produto e acham que se fizerem tudo certo, ficarão bem. Isso não é mais verdade, você pode fazer tudo certo e ainda assim ser ultrapassado por tendências e oportunidades", diz.

Na visão de Davis, esse contexto torna o plano de sucessão mais complexo. É uma quebra de paradigma para fundadores, por exemplo, aceitar que os herdeiros não devem ter as mesmas habilidades que eles. "As famílias adquirem uma mentalidade de que se eu fiz de uma forma, meu filho ou filha deve fazer o mesmo, o que é uma boa forma de aprendizado se o seu negócio se mantiver sempre igual. Por isso, tentamos convencer as famílias a serem mais flexíveis e a entenderem a sucessão no contexto do que está acontecendo no mercado", afirma.

Esse desafio surge em um momento particular, em que as gerações mais velhas estão vivendo e trabalhando mais, enquanto as mais novas - que estudaram mais, são mais globalizadas e têm mais treinamento - já se consideram prontas para assumir responsabilidades na empresa.

"Qual geração vai se adaptar?", questiona o consultor. Cada vez mais, Davis explica, a resposta é afastar os mais velhos da operação e dar a eles um papel novo, seja no conselho ou no comando de holdings que concentram todos os negócios da família. Para Davis, a maioria dos cargos executivos do negócio principal pode ser delegado - inclusive para fora da família, aspecto essencial para garantir a atração de talentos na empresa - mas é preciso que os patriarcas sejam capazes de resolver questões sobre o controle acionário e manter a família unida e alinhada com a estratégia da empresa.

Davis enxerga oportunidades na troca de experiências entre gerações, algo que, na sua opinião, tem potencial para acontecer de forma mais eficaz nas empresas familiares, onde há mais foco no longo prazo e no legado da família. "A geração mais nova têm habilidades e insights que os mais velhos não têm, mas a geração mais antiga tem a experiência e o entendimento de que o mundo tem altos e baixos. Eles precisam ser parceiros nos negócios e tirar valor disso", diz.

Entre os jovens da geração Y, nascidos entre 1980 e 1995, as expectativas são ainda mais diferentes. Os resultados preliminares de um estudo da consultoria Cambridge com herdeiros dessa geração aponta que há uma tendência de querer adiar a entrada no negócio da família e um interesse maior em empreender a própria empresa. "Eles expressam lealdade para a família, mas menos interesse no negócio", diz Davis. Na opinião do consultor, no entanto, essa situação pode acabar se mostrando útil. É, potencialmente, uma forma de o jovem adquirir habilidades novas para depois voltar ao negócio familiar mais preparado.

Via: Supermercado Moderno

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